Ele não é o Velho do Rio, da novela Pantanal, mas é o Velho do Lago. É lugar-comum no discurso dos políticos que o governo não pode resolver os problemas sozinho, que a "sociedade civil" (e existe sociedade militar?) deve fazer sua parte, assim como os cidadãos. Pois Antônio Albino Filho fez a sua, e salvou da poluição o lago do bairro Mirante das Agulhas Negras, em Resende, na Região do Médio Paraíba do estado do Rio, a 146 quilômetros da capital.
Em 1997, Antônio, nascido em Ubá (MG), há 65 anos, conheceu Resende ao acompanhar um cunhado que ia comprar um terreno no bairro. Pedreiro aposentado depois de 35 anos de trabalho em São Paulo, apaixonou-se pelo lago e comprou um terreno também. Antônio e a mulher, Ana Malaquias Carvalho Albino, foram a quarta família a se mudar. Hoje o Mirante das Agulas Negras tem 350 casas.
O bairro fica na periferia da cidade, a 3,5km do Centro. Foi construído numa antiga fazenda, mas os loteadores não tomaram os devidos cuidados ambientais. O esgoto era jogado no lago, de 4.600 metros quadrados. Em dias de calor, o mau cheiro se espalhava. Então Antônio começou a lutar. Procurou os órgãos públicos, mas não conseguiu providências. Foi quando teve a idéia de fazer um mutirão de limpeza. Para a fundação da associação Amigos do Lago Mirante das Agulhas (Alma) foi um pulo. Antônio começou a chamar a atenção da imprensa e da iniciativa privada para a importância da preservação do lago. Finalmente, a empresa Águas das Agulhas Negras canalizou o esgoto, que agora é transportado para uma elevatória na entrada do bairro e de lá para a Estação de Tratamento Alegria.
A obra vai ser entregue hoje [29/03], com festa das 9h às 12h. A programação inclui o plantio de mudas nas margens e a colocação de alevinos na água, mas o ponto alto será o "abraço ao lago".
– Houve um momento em que pensei ser impossível salvá-lo – conta Antônio. – A fé me fez superar as ameaças e as humilhações. Esse lago é tudo para mim.
A mulher que o diga.
– A pressão foi tanta que pedi a Antônio que escolhesse: ou eu o ou lago. Ele escolheu o lago, porque "sem água ninguém vive". Mas fiquei. Se ele não pudesse contar comigo, com quem contaria?
A dona de casa Kátia Seixas lembra que na época da venda o maior atrativo do loteamento era exatamente o espelho d’água.
– Agora os moradores até já levam cadeiras para as margens para ver o sol se pôr.
O comerciante Cláudio Rangel corria em volta do lago, mas desanimara, devido ao mau cheiro.
– Vou voltar a correr e levar as crianças para brincar – garante.
Assista o depoimento do "Véio do Lago"
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