23 de dezembro de 2008

RJ - Conseqüências de um Desastre Ambiental

Philip C. Scott, PhD*

Infelizmente, as instituições estatais de Saúde, Meio Ambiente, Pesca e Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, aparentemente não estão vendo a gravidade do recente acidente ambiental ocorrido com o despejo do poderoso pesticida Endosulfan que contaminou ¾ do leito do Rio Paraíba do Sul - RPS à partir da empresa Servatis em Resende, RJ. O Endosulfan, um composto organoclorado já banido em tantos países, é classificado pela agência de proteção do meio ambiente dos EUA (U.S. EPA) como altamente tóxico (- Toxicity Category I). É um disruptor do sistema endócrino humano podendo causar toxicidade reprodutiva em humanos. Aumenta o risco de autismo, o atraso da puberdade em meninos e provoca defeitos congênitos no sistema reprodutivo humano. Isso ocorre não apenas em seres humanos, mas também com outros organismos expostos à contaminação. O estudo (http://www.ejfoundation.org/pdf/end_of_the_road.pdf) da Environmental Justice Foundation resume os desastres ocorridos com Endosulfan em vários países onde ele é ou foi vendido por diferentes companhias. O Endosulfan é conhecido por diferentes nomes incluindo Agrosulfan; Aginarosulfan; Banagesulfan; Cyclodan; Endocel; Endoson; Endonit; Endomil; Endosol; Endostar; Endodaf; Endosulfer; E-sulfan; Endorifan; Hildan; Redsun; Seosulfan; e Thiodan.

Assim como o DDT e Dieldrin, o Endosulfan é um composto organoclorado e como tal, é persistente no meio ambiente. Seu principal produto de degradação - o sulfato de endosulfan não apenas é mais persistente mas igualmente tóxico. O Endosulfan bioacumula nos seres humanos e outros animais.

Por conta dos seus resíduos no meio ambiente e a contaminação de gado através de pastos afetados por Endosulfan, a Coréia do Sul já rejeitou a carne bovina da Austrália, assim como a União Européia suspendeu suas importações da Tanzania, Uganda e Quênia no passado.

Uma pesquisa realizada em apenas 123 domicílios em Kerala na Índia, uma região afetada pela contaminação por Endosulfan, revelou 49 casos de câncer, 43 casos psiquiátricos, 23 epilépticos, 9 com abnormalidades congênitas e 23 com retardamento mental. Na mesma região 170 crianças expostas ao Endosulfan foram comparadas com 92 não expostas e encontrou-se grande diferença entre os grupos inlcuindo pobre desempenho acadêmico, elevada predominância de abnormalidades congênitas, dificuldades de aprendizado, atraso na puberdade dos meninos e alto nível de desordens menstruais nas meninas. E isso, apenas com o uso 'normal' do pesticida, ou seja pulverização aérea de plantações.

O testemunho mais contundente sobre o efeito do Endosulfan na Natureza é o de um agricultor do Benin: "Os campos fedem por dois a três dias após a aplicação pois praticamente qualquer ser vivo foi morto e tudo começa a apodrecer".

Sabendo que o Endosulfan é um produto altamente tóxico, ultrapassado, cujo emprego seguro não pode ser garantido e que é um produto químico persistente que bioacumula em organismos expostos, seria lógico que as autoridades estaduais banissem imediatamente a produção, venda e aplicação do Endosulfan bem como outros produtos agrotóxicos de natureza similar. Isso requer que o setor industrial cesse a produção e se livre com segurança de todos estoques do produto(s).

No contexto de calamidade ambiental que aflige o Norte Fluminense onde as águas do RPS sobem e invadem cidades ribeirinhas, contaminado de várias formas as fontes de águas potáveis da população e sabendo da recente contaminação do RPS por Endosulfan, é de fundamental
importância que as autoridades competentes tomem urgentes providências como alertas à população sobre os riscos e gravidade do desastre ambiental que se deflagra e inicie o quanto antes estudos de verificação da presença de pesticidas e poluentes. O efeito combinado
do despejo de Endosulfan com a subida das águas poderá incluir a contaminação de pastos ribeirinhos e efeitos a médio e longo prazo na pecuária leitera e de corte do estado. Embora o governo esteja tomando providências para indenizar pescadores artesanais, não houve ainda a proibição de pesca e venda de pescado, que ocorre, e que garante a contaminação da população. Ë um bom momento para a FIRJAN rever seu papel na Sociedade.

Não prestar atenção ou tomar providências urgentes e sérias neste episódio é garantir conseqüências trágicas e caras para o futuro da população do estado.

Para saber mais veja também: Agroecologia

* Universidade Santa Úrsula
Instituto de Ciências Biológicas e Ambientais
Rua Jornalista Orlando Dantas 59
Botafogo
22231-010 Rio de Janeiro - RJ
tel: (21) 2553-4310
http://www.laquasig.bio.br
philip@laquasig.bio.br

Artigo recebido por e-mail de:
Guilherme Souza
Diretor Técnico - Projeto Piabanha
Empreendedor Social Ashoka
R. Nilo Peçanha, 268
Centro
Itaocara - RJ
CEP:28.570-000
Tel: (22) 3861-2569 / (22) 8112-5090

www.projetopiabanha.org.br

1 comentários:

Andre Pinto disse...

Nós, moradores da foz do rio Paraíba do Sul, em São João da Barra - RJ, estamos muito preocupados com o que vimos e sofremos , por causa do derramamento deste veneno. A captação de nossa água é proveniente da CEDAE, que a retira do rio Paraíba. Será que estamos isentos de tais contaminações biocumulativas? Não se tem estudos mais aprofundados sobre a captação pós-derramamento de endosulfan? Parabéns pela matéria do Dr. Philip. Vou repassar por e-mail ao maior número de pessoas que conheço. Um eco-abraço
André Pinto.

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