Hoje, dia sem sol ou chuva - nublado -, garimpando na Internet alguns textos para refletir sobre as questões ambientais, encontrei um, de Frei Betto, entre outros que são unânimes em seu foco: não há como reverter o caos ambiental e social sem uma profunda e urgente reversão de atitudes de toda sociedade.
Sobre o texto de Frei Betto, publicado em 2008, intitulado "Do mundo virtual ao mundo espiritual", escolhi alguns trechos para comentar. Neste trecho que segue, ele apresenta o seguinte relato:
"Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'
O primeiro enfoque que destaco sobre essa comparação feita pelo frei, entre os monges orientais e os executivos ocidentais, é o da educação. Quem formou ambos os grupos foram processos de educação, porque as pessoas não nascem monges ou executivos, elas formam-se monges ou executivos, então, pode-se concluir que são os "modelos" educacionais que definem padrões sociais de se pensar, planejar e viver a vida.
Ele prossegue sua crônica narrando seu encontro rápido - em um elevador - com uma menina de 10 anos. Puxa uma conversa com ela fazendo-lhe algumas perguntas, e lamenta que as respostas da criança evidenciam uma infância atribulada, cheia de compromissos, e contra-indica o acúmulo de atividades desde tenra idade, alertando que é desta forma que "estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente "infantilizados", e concordo com ele.
Frei Betto aborda, também, sobre a frieza da virtualidade; o tipo de entretenimento oferecido pelo ambiente virtual; a imbecilização da televisão; e vai além, criticando o culto ao corpo e o aprisionamento/condicionamento no qual se encontram a sociedade do consumo. Salienta que para se manter a saúde existem três requisitos fundamentais: amizades, auto-estima, ausência de estresse. Aqui eu incluiria outros requisitos como simplicidade, moderação e fraternidade.
Em sua conclusão, traz a resposta dada por Sócrates, filósofo grego, quando vendedores o assediavam. O filósofo simplesmente respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!"
A felicidade é o principal alvo das propagandas. Elas nos ensinam que somente seremos felizes se tivermos determinados produtos, de determinadas marcas, e assim, estes produtos tornam-se imprescindíveis para nossa existência e para nossa auto-estima, e mesmo que tenhamos consciência de que ter tudo o que se quer - ou mais ainda - não é o suficiente para que sejamos felizes, lá vamos nós, para os grandes centros comerciais, comprar pedacinhos de felicidade.
É, fomos - e ainda somos - educados para vivermos "felizes para sempre". Um para sempre tão rápido quanto os produtos que compramos e descartamos como se o ambiente pudesse engolir e digerir satisfatoriamente nossos rejeitos.
Somos educados pela Era da Tecnologia para acompanhar os grandes avanços dos processos científicos, que trazem cada vez mais sofisticação aos programas e máquinas, que aceleram cada vez mais os processos de extração de recursos e produção de materiais para o consumo, mas que, na carona, aceleram o processo de desumanização.
É essa educação que nos faz andar na contra-mão do ambiente. É essa educação que nos faz viver em permanente contradição. É essa educação que diz que a felicidade está guardada em um pote de ouro, no final do arco-íris. É essa educação que nos tornou a principal ameaça de um paraíso que nos proporciona a vida.
E se essa educação conseguiu tamanha façanha, é provável - e tenho realmente esperança nisso - que somente por uma nova educação conseguiremos encontrar uma redireção para as nossas ações, que nos oriente a andar lado a lado com o ambiente e com a vida, mas não temos tempo a perder. Educação Ambiental Já!
Berenice Gehlen Adams - Coordenadora do Projeto Apoema - Educação Ambiental e Diretora da Editora Apoema Cultura Ambiental (Apoema Produções Paradidáticas Ltda.)
Sobre o texto de Frei Betto, publicado em 2008, intitulado "Do mundo virtual ao mundo espiritual", escolhi alguns trechos para comentar. Neste trecho que segue, ele apresenta o seguinte relato:
"Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão. Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'
O primeiro enfoque que destaco sobre essa comparação feita pelo frei, entre os monges orientais e os executivos ocidentais, é o da educação. Quem formou ambos os grupos foram processos de educação, porque as pessoas não nascem monges ou executivos, elas formam-se monges ou executivos, então, pode-se concluir que são os "modelos" educacionais que definem padrões sociais de se pensar, planejar e viver a vida.
Ele prossegue sua crônica narrando seu encontro rápido - em um elevador - com uma menina de 10 anos. Puxa uma conversa com ela fazendo-lhe algumas perguntas, e lamenta que as respostas da criança evidenciam uma infância atribulada, cheia de compromissos, e contra-indica o acúmulo de atividades desde tenra idade, alertando que é desta forma que "estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente "infantilizados", e concordo com ele.
Frei Betto aborda, também, sobre a frieza da virtualidade; o tipo de entretenimento oferecido pelo ambiente virtual; a imbecilização da televisão; e vai além, criticando o culto ao corpo e o aprisionamento/condicionamento no qual se encontram a sociedade do consumo. Salienta que para se manter a saúde existem três requisitos fundamentais: amizades, auto-estima, ausência de estresse. Aqui eu incluiria outros requisitos como simplicidade, moderação e fraternidade.
Em sua conclusão, traz a resposta dada por Sócrates, filósofo grego, quando vendedores o assediavam. O filósofo simplesmente respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!"
A felicidade é o principal alvo das propagandas. Elas nos ensinam que somente seremos felizes se tivermos determinados produtos, de determinadas marcas, e assim, estes produtos tornam-se imprescindíveis para nossa existência e para nossa auto-estima, e mesmo que tenhamos consciência de que ter tudo o que se quer - ou mais ainda - não é o suficiente para que sejamos felizes, lá vamos nós, para os grandes centros comerciais, comprar pedacinhos de felicidade.
É, fomos - e ainda somos - educados para vivermos "felizes para sempre". Um para sempre tão rápido quanto os produtos que compramos e descartamos como se o ambiente pudesse engolir e digerir satisfatoriamente nossos rejeitos.
Somos educados pela Era da Tecnologia para acompanhar os grandes avanços dos processos científicos, que trazem cada vez mais sofisticação aos programas e máquinas, que aceleram cada vez mais os processos de extração de recursos e produção de materiais para o consumo, mas que, na carona, aceleram o processo de desumanização.
É essa educação que nos faz andar na contra-mão do ambiente. É essa educação que nos faz viver em permanente contradição. É essa educação que diz que a felicidade está guardada em um pote de ouro, no final do arco-íris. É essa educação que nos tornou a principal ameaça de um paraíso que nos proporciona a vida.
E se essa educação conseguiu tamanha façanha, é provável - e tenho realmente esperança nisso - que somente por uma nova educação conseguiremos encontrar uma redireção para as nossas ações, que nos oriente a andar lado a lado com o ambiente e com a vida, mas não temos tempo a perder. Educação Ambiental Já!
Berenice Gehlen Adams - Coordenadora do Projeto Apoema - Educação Ambiental e Diretora da Editora Apoema Cultura Ambiental (Apoema Produções Paradidáticas Ltda.)
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