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O Dono da Água
Dono do poço vira coronel da água em cidade do Entorno
Sem contar com abastecimento regularizado, habitantes de Águas Lindas ficam à mercê de homem que transformou o fornecimento em um negócio particular. Mesmo ilegal, tem ajuda das autoridades
Ary Filgueira - Correio Braziliense
Um recurso natural, que por lei deveria ser de todos, a água tem apenas um dono em um bairro de Águas Lindas (GO). Dono de um poço artesiano, José Romualdo Lima, 51 anos, faz o que seria o papel do Estado: irriga as torneiras das 80 famílias que residem no Jardim do Entorno 1. Para isso, ele cobra uma taxa de R$ 40 de cada morador, que chama de “simbólica”. Quem não paga em dia, sofre a lei do coronelismo. Além de ter o fornecimento interrompido imediatamente, tem de se explicar na delegacia do município.
Foi assim que aconteceu com o casal de serralheiros Elizete Rodrigues, 41, e Alexandre Alves Ferreira, 39, em 27 de dezembro. Eles resolveram parar de pagar a conta da água em maio do ano passado, porque Romualdo deixou de emitir o comprovante de pagamento. O esquecimento não prejudicou somente o controle dos dois, mas o próprio fornecedor se confundiu e passou a cobrar os meses que os moradores afirmam ter pago. Resultado: no dia em que não estavam em casa, o serviço foi interrompido sem aviso prévio. “Ele veio aqui com um policial civil e simplesmente cortou o cano e colocou uma rolha”, acusa Elizete.
Além de ficarem sem abastecimento, os dois foram convidados a comparecer no Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) de Águas Lindas, acusados de furtar água particular. Lá, o casal afirma que pagou R$ 100 e parcelou o restante da dívida acumulada em 16 meses de inadimplência. O recibo da entrada foi manuscrito em um pedaço de papel em nome de Alexandre e Romualdo. Mas a Polícia Civil não fez o boletim de ocorrência.
O casal denunciou a truculência policial ao Ministério Público. “Isso é crime. O MP vai oferecer denúncia contra esse policial”, garantiu o promotor de Justiça substituto de Águas Lindas, Alberto Francisco Cachuba Júnior. Quanto a Romualdo, Cachuba disse que o MP vai apurar o caso para ver em qual responsabilidade penal ele será qualificado. “Nosso maior problema é não deixar essas pessoas sem o fornecimento de água. Se ele parar de abastecer as casas, elas vão ficar sem”, ponderou o promotor.
O MP já conhecia o caso, mas decidiu aguardar o resultado da eleição para prefeito, no ano passado. De posse do abaixo-assinado com 14 assinaturas de moradores do bairro, que pedem a mudança do fornecedor, o promotor vai propor uma reunião com a Seneamento de Goiás (Saneago) e a Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb) para tentar resolver o problema sem que as famílias paguem caro para ter a água em suas casas. “O MP espera que elas não estabeleçam um custo elevado ao cidadão”, disse o Cachuba.
Engavetado
Em 2005, os governos de Goiás e Brasília firmaram parceria que prometia levar a infraestrutura de abastecimento de água e tratamento do esgoto para Águas Lindas. As obras começariam em outubro daquele ano e custariam R$ 185 milhões. Mas o termo de compromisso foi engavetado. Somente a sete dias no cargo, o prefeito eleito Geraldo Messias promete resolver o problema. “O prefeito passado (José Pereira, do Democratas) não assinou o termo criando o consórcio entre as duas fornecedoras”, afirmou.
O monopólio de Romualdo começou há 10 anos. Ele pediu demissão da empresa em que trabalhava — especializada justamente no ramo que exerce hoje — e abriu seu próprio poço artesiano no Jardim Entorno 1. Segundo ele, a intenção é ajudar as pessoas de baixa renda que não podem construir sua própria fonte de água. Para isso, investiu R$ 40 mil. Ele se gaba de fornecer à comunidade 200 mil litros de água por dia. “Aquilo tem me dado muita dor de cabeça. Eu já ofereci à Saneago, mas não querem comprar meu três poços”, afirma. Romualdo, porém, não revela quanto pediu para a empresa.
Mas o abastecimento das casas é arbitrário. Tem dias em a água é liberada apenas das 6h às 12h, como ocorre nos meses de seca. “Como tenho três poços, vario o racionamento. Um dia um, depois em outro”, conta. Moradora da Quadra 9, Elizete já passou uma semana sem água. “Perguntei se ele daria desconto na conta, mas recebi uma resposta irônica, de que ele não teria como pagar a cirurgia plástica da mulher”, afirma Elizete. Os carnês, por sinal, levam o nome da mulher dele na capa: Santa Ana Artesiano Ltda.