Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Cerca de 500 pessoas participaram hoje [ontem] (27) de uma manifestação na RJ-106, principal via de acesso à Região dos Lagos. Com caixões, moradores de cinco municípios da região bloquearam um trecho da pista e chamaram atenção para mortandade de peixes na Lagoa de Araruama, que, segundo associações de pescadores, chegou hoje a 400 toneladas.
O protesto ocorreu na altura do município de São Pedro da Aldeia e marcou o início de uma audiência pública promovida pelo governo estadual, por meio do Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea), para apurar as causas do problema. Participam da reunião os pescadores e representantes da Prolagos, concessionária do sistema de água e esgoto da região, acusada de jogar esgoto sem tratamento na lagoa.
Por volta das 18h, os manifestantes desbloquearam a RJ-106 – a Via Lagos – e seguiram para a Câmara de Vereadores de São Pedro, onde é realizada a audiência.
Segundo a Colônia de Pescadores da São Pedro, que participa da reunião, até o final da semana, a quantidade peixes mortos deve chegar a 700 toneladas. Para o presidente da associação, Haroldo Pinheiro, a mortandade foi causada pela abertura das comportas da Prolagos, despejando esgoto in natura.
“A Prolagos encheu de esgoto a nossa lagoa”, afirmou o presidente da colônia. “Isso aqui [a manifestação] representa não só a morte dos peixes, mas também a dos pescadores e de todos os cinco municípios banhados por ela.”
A mortandade de peixes foi notada na última semana. No sábado (24), revoltou os pescadores, que recolheram cerca de 70 toneladas entre sardinhas, carapebas e tainhas e jogaram dez toneladas na sede da Prolagos.
A empresa rebateu que não tem culpa no incidente. O diretor comercial, Pedro Alves, disse que são várias as causas do problema, entre elas, o excesso de chuvas no mês, que aumentou a quantidade de detritos despejados na lagoa.
“Podemos afirmar com bastante tranqüilidade que não é a Prolagos a responsável por isso, mas, sim, a grande quantidade de chuvas, com todo material orgânico que foi levado por elas, inclusive, esgoto, que nessa relação, talvez, seja a menor proporção”, afirmou. “Ali [São Pedro] tem muita lama, a região tem fazenda, tudo isso contribui.”
Para resolver o problema, a expectativa é que o governo use uma draga para desassorear o canal de Itajuru, entre o mar e a lagoa, permitindo a renovação do oxigênio no local. O trabalho deve começar amanhã (28). Os detritos despejados na lagoa fizeram proliferar grande quantidade de algas, que competem com os peixes por oxigênio.
O presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), da secretaria de Estado do Ambiente, Luiz Firmino Martins, participou de audiência pública realizada na noite desta terça-feira, dia 27, na Câmara Municipal de São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos. Ele apresentou soluções práticas para o problema da mortandade de peixes na Lagoa de Araruama. Firmino garantiu que vai intensificar as obras de dragagem para restabelecer a renovação da água através do Canal Itajuru, em Cabo Frio. Com a retirada da areia e dos detritos levados pelas chuvas, que assorearam o Itajuru vai amenizar o problema da falta de oxigênio na lagoa, que provocou a morte de 30 toneladas de peixes nos últimos cinco dias.
Firmino afirmou, ainda, que apóia a decisão do Ministério Público de investigar as causas e os responsáveis pelo acidente ambiental e a reivindicação de alguns prefeitos da região de estender o defeso – um benefício pago aos pescadores até que a pesca se restabeleça.
Decreto de estado de calamidade pública
Os prefeitos de São Pedro da Aldeia, Araruama, Iguaba e Araial do Cabo decidem nesta quarta-feira se vão mesmo decretar estado de calamidade pública nos municípios, em função do desastre ambiental.
Para analistas, esta medida de decretar estado de calamidade pública, facilita a concessão do defeso pelos órgãos federais. A outra solução seria buscar do Estado, dos municípios da região e até mesmo da Concessionária Prólagos, uma ajuda para os pescadores durante o período de suspensão da pesca.
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